O final de ano se aproxima, e eu comecei a fazer um balanço do que eu li e gostei, em matéria de quadrinhos. Li muita coisa legal, inclusive de artistas brasileiros, o que me deixou contente por ver que o pessoal não faz feio frente aos criadores de histórias mais populares no mundo da nona arte.
Portanto, vou fazer um Top 5 das obras que mais me impressionaram neste ano:
5º Lugar – Daytripper
É fato que a Vertigo sempre me surpreende com histórias adultas bem escritas e desenhadas. Tem para todos os gostos, de fantasia a histórias policiais. A estréia dos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, com uma série só deles, não podia dar errado. Ao menos, essa primeira edição tem muito da identidade deles, tanto no roteiro como na arte, tendo como foco a vida como ela é.
Não vou falar muito pra não estragar a surpresa para quem se interessar em ler a obra, mas posso garantir que o conteúdo é de qualidade. Na trama, temos o jornalista de obituários, Brás de Oliva Domingos, que almeja ser um escritor e sair da sombra de seu pai. Mas o mundo dá voltas…
Há um contra, que é a narrativa um pouco lenta, não é recomendado para aqueles leitores que desejam a ação que encontraram em Umbrella Academy ou em Casanova, e sim para os que procuram algo diferente dos quadrinhos de superherói. Esta primeira edição ainda carrega em sua estrutura, muito da cultura brasileira e os cenários são estonteantes e nostálgicos, fazendo lembrar de escritores como Jorge Amado.
4º Lugar – Wednesday Comics
O segundo gibi mais comentado nos EUA no momento: um jornal semanal com aventuras dos maiores heróis da DC escritas e desenhadas pelos melhores colaboradores da editora. Com páginas de HQ do tamanho do maior jornal na sua banca.
Em época de webcomics, de Kindle e Sony Reader, de pirataria de quadrinhos na rede e de graphic novels luxuosas na livraria, Wednesday Comics quer a nostalgia da grande seção de quadrinhos coloridos do jornal de domingo. Gibi que você tem que ler esparramado no chão, coisa que hoje só os quarentões americanos lembram.
Em 35,5 por 50,8 cm, uma página de HQ tem que ter muito mais quadros que as no formato padrão. As de Ben Caldwell com a Mulher Maravilha, por exemplo, usam em torno de 40 quadros na página para contar uma história cada, fazendo homenagens ao clássico Little Nemo. Já Neil Gaiman e Mike Allred, em Metamorfo, já chegaram a fazer uma imagem só para a página inteira, fora uma tirinha extra na parte de baixo onde são respondidas cartas fictícias dos fãs do personagem.
A idéia aqui é brincar com o formato. Subentenda-se que o conteúdo não tem que ser revolucionário nem arrebatador. A melhor tira, até agora, é a do Gavião Negro escrita e desenhada por Kyle Baker cheia de detalhes cômicos e aproveitando para tirar sarro dos monólogos metidões de Frank Miller. Já as demais ganham pelo desenho. O que importa, afinal, é a alegria de ver grandes e coloridos personagens na página gigante. Mal posso esperar pra ver isso nas bancas do Brasil.
3º Lugar – Batman & Robin
O quarto e último gibi mais comentados nos EUA no momento: o que já era esperado. Novo Batman, novo Robin, nova série, novas idéias malucas de Grant Morrison desenhadas em um novo estilo de Frank Quitely. Não há por que não ler (e reler e reler e reler).
As duas primeiras edições são aventura de alta octanagem e nada mais. A primeira abre com a seqüência de perseguição motorizada na qual juro que consigo ver o novo Batmóvel se mexer. A segunda é para quem queria ver mais das pirações de Frank Quitely na composição de páginas de ação como fez fantasticamente em We3. É uma pena que a leitura seja tão rápida.
Morrison chega a abusar. Faz o novo Batman usar parlari, um antigo idioma usado apenas por gente de circo para falar com os inimigos. A idéia, em um escritor com menos capacidade, serviria para toda uma saga que exploraria as raízes circenses do novo Batman. Morrison usa-a por apenas dois quadros.
E Quitely é o melhor desenhista de ação da atualidade. É uma pena que não estará presente a partir da edição 4, mesmo que subtituído por gente com cacife: Billy Tan e Frazer Irving. Volta somente na edição 10, no ano que vem. Vai ser uma longa espera.
Sobre o ”BATMAN AND ROBIN” de Grant Morrison e Frank Quitely, as criticas falam por si próprias.Todas as pessoas com quem troquei idéias dizem que a série é muito boa. A despeito do que falam sobre o Grant Morrison, até que ele está fazendo um bom trabalho nesta revista.
2º Lugar – Umbrella Academy:Dallas
Os premiados Gerard Way e Gabriel Bá estão de volta à Academia! Após os eventos de “A Comitiva do Apocalipse” tudo é novo para nossos nada ortodoxos heróis! Um estático Garoto-Espacial, uma revoltada e muda Fofoca, um amargurado Kraken e um inspirado Espírita não têm nada a ver com os seus antigos papéis na Academia, apenas Número 5 parece ainda ter força de vontade para retomar sua vida, mas isso pode mudar com a chegada dos Eternos Temporários!
O que dizer deste gibi?? Aqueles que acompanharam o primeiro arco de histórias vão se sentir em casa e antenados com o que acontece em “Dallas”. O que chama a atenção são os diálogos bem bolados e os personagens malucões criados por Gerard Way e Gabriel Bá. É uma HQ de superheróis em que você não fica entediado, esperando pelo final.
1º Lugar – Retalhos
Do quadrinista Craig Thompson, a obra retrata fragmentos da juventude do autor e sua relação problemática com a família, com Deus e com seu primeiro interesse amoroso.
O protagonista da trama, o próprio autor, mostra o peso que a criação rígida e a constante pressão da comunidade religiosa exerceram sobre sua infância. Perseguido e espancado regularmente na escola por ser frágil e bonzinho demais, Craig refugiava-se no desejo sincero de fazer o que Deus queria dele. O jovem protagonista transita entre mundos em que não se encaixa: ao mesmo tempo em que tenta se adequar aos mandamentos e ao temor sobrenatural que seus pais e sua igreja lhe incutem, ele se esforça para não se diferenciar demais dos outros jovens de sua escola e de sua congregação – muitos dos quais são bem menos apegados às restrições religiosas do que ao êxtase dos cânticos coletivos. A obra é, ao mesmo tempo, uma oferta íntima a cada fã e um exorcismo simbólico de Craig Thompson.
A crise espiritual que vem com a descoberta do amor nos braços (e no quarto) de Raina faz com que Craig tenha de se reinventar, e esse processo só será concluído quando seus estudos bíblicos o levarem a perceber as contradições inconciliáveis e demasiado humanas do Livro Sagrado, fazendo com que todos os ensinamentos do pastor e dos seus pais caíssem por terra. Quando Craig enfim deixa a casa dos pais, aos 20 anos, para tentar a carreira de desenhista, todo um novo mundo se abre para ele, com valores diferentes e uma nova razão para viver.
Retalhos é uma das mais importantes histórias em quadrinhos publicadas nos últimos anos. A obra autobiográfica de Craig Thompson prende o leitor ao longo de suas quase 600 páginas e é um convite sincero a conhecer suas lembranças tumultuosas.
Com este livro, Thompson deixa claramente “uma marca na superfície branca”, o rastro de seus passos, “mesmo que seja temporário”.
Em diversos momentos, há semelhanças com as metáforas visuais de David B. (Epilético), David Mazzucchelli (Cidade de Vidro) e Art Spiegelman (Maus). A cadência, o estilo e certas cenas remetem ao mestre Will Eisner. Nos traços variantes, na sinuosidade das curvas ou nas angulações desconcertantes, o Craig autor reconstrói graficamente o estado de espírito do Craig protagonista a cada passo da trama.
Vencedora de diversos prêmios mundo afora, Retalhos é de uma beleza assombrosamente melancólica e pura, que enternece a ponto de levar às lágrimas – contidas, disfarçadas, mas profundas. Quem não ama quadrinhos, definitivamente passará a amar.
Fonte: Universo HQ e Omelete
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